domingo, 31 de outubro de 2010

Na terrinha dos segredos

Era uma pequena aldeia, onde todo mundo se conhecia, e tudo rolava bem nessa pequena aldeia, perdida no interior dos interiores, no país onde todos fogem para o litoral.
Até que um dia, nessa aldeia começaram aparecer os segredos de cada um dos seus habitantes, pintados nas paredes das próprias casas, segredos de todo o tipo, dos mais mesquinhos aos casos de policia, e ninguém fazia a menor ideia de quem os escrevia, dia após dia, as pessoas acordavam com o receio de ter chegado a vez de elas verem os seus segredos escritos na parede de sua casa, de tal forma que a primeira coisa que faziam quando acordavam era espreitar fora de casa, para ver o estado das paredes. Já ninguém queria saber dos segredos dos outros, e a onda do comentar o segredo do vizinho á muito tinha passado, pois as pessoas só jogam pedras ao telhado do vizinho, quando pensam que o seu telhado está bem protegido, e como todo mundo naquela terra tinha telhados de vidro, já ninguém queria falar dos outros. E um a um, os segredos lá se foram sabendo, até que só faltavam revelar o segredo de 3 casas, de 3 famílias. Na aldeia dizia-se que o escritor dos segredos tinha de ser um daqueles 3, e a casa que ficasse para o fim, era esse o delator.
Os nervos estavam em franja, as pessoas queriam linchar alguém, para o fim os moradores dessas 3 ultimas casas já passavam as noites acordados há espera do divulgador de segredos, isso fez com que demorasse mais tempo, mas tempo era coisa que não faltava aquela gente.
Certo dia, vinham da missa, e mais um segredo, tinha mudado o modus-operandi do delator, agora era de dia, ainda tentaram ver quem faltou nesse domingo á missa, mas a fé por aquelas paragens já não é o que era, e muita gente não tinha marcado presença nesse dia na igreja, por isso ficaram sem saber quem era o delator.
Mas agora só faltavam 2 casas, a dos Costas e a dos Machados, o mais lógico de se pensar era, aquele que dos 2 não tiver as paredes da sua casa pintadas com o próximo segredo, é porque é ele o delator, e dessa vez isso foi rápido, no dia seguinte a casa dos Machados tinha um segredo nas paredes, onde dizia o seguinte:”Nesta casa mora uma pessoa que já por várias vezes roubou terreno e agua aos vizinhos”, mas ninguém fez caso desse segredo, dirigiram-se todos para a casa dos Costas, empunhando todo o tipo de armas, e como se de um pacto de silencio entre os aldeões se tivesse formado, sem que ninguém tivesse combinado, pois nem seria preciso, fizeram a justiça pelas próprias mãos e mataram os Costas, nem mesmo com eles e alegarem inocência, isso os salvou.
No dia seguinte, quando já todos pensavam que o pior tinha passado, a parede dos Costas dizia isto:” Seus criminosos! Foram matar uma família de inocentes, mas eu tenho tudo gravado em vídeo e já fui entregar a policia”, nesse mesmo dia foram todos presos, a aldeia ficou vazia, a excepção da família Machado, que puderam dessa forma apoderar-se do terreno dos outros sem ninguém lhes oferecer resistência, a população estava envelhecida e o mais provável era já nenhum deles regressar da cadeia com vida, a aldeia estava aberta ao saque, como lá só ficaram os Machados, apoderaram-se de tudo, tal como o seu segredo dizia, os Machados roubaram os terrenos e as aguas de todos os outros.

sábado, 16 de outubro de 2010

Amor tem quem o cria!

Há uma história na natureza, que me emociona, e passa assim...

– Os cucos são aves por natureza muito matreiras e ao longo de todos estes anos de evolução, foram desenvolvendo uma técnica de postura de ovos, que aos olhos do ser humano, que são olhos de preconceito e de princípios de moral, nos parecem ultrajantes, pelas nossas regras, isso seria impensável e imperdoável mas nós não podemos esquecer que a natureza se rege por outros princípios, que é a lei do mais forte e mais inteligente, logo mais apto a um unico objectivo, que é o de assegurar a sobrevivência da espécie, não podemos ver nisso maldade, temos de nos abstrair devidamente.
Quando chega a altura da postura, isto é, fazer um ninho para depositar os ovos, a táctica dos cucos é, procuram um ninho de um casal de passarinhos, que já tenha posto os seus ovos e esperam que eles abandonem o ninho, para se alimentarem, então aí, quando o ninho dos pequenos passarinhos se encontra completamente desprotegido, os cucos pousam e põem lá também os seus ovos. Assim os coitados dos passarinhos, quando retornam ao ninho parecem não se aperceber de nenhuma alteração, criando assim os filhos do cuco, que quando já tiver força suficiente, expulsa os seus pseudo-irmãos, os verdadeiros filhos dos passarinhos, atirando-os fora do ninho. Os pássaros ignorando a situação alimentam os filhos do cuco com a avidez e alegria dos verdadeiros pais, de tal forma que a cria fica bem maior que os seus pseudo-progenitores, que travam uma enorme batalha para o alimentar, não têm um segundo de descanso. Nunca deixando de lhe dar o amor e carinho, bem como todos os cuidados que todos os pais dão aos seus filhos.
Agora, quem nos garante que os passarinhos não se apercebem, que aquela cria não é a sua, mas ainda assim não conseguem deixar de lhe ter amor, só pelo facto de a terem visto crescer, pois amor a um filho, não é de quem os cá põem no mundo, mas sim de quem os cria, tal como nos humanos. E os passarinhos criando o filho dos cucos como seu não o estão a moldar a sua imagem, fazendo da cria do cuco a sua própria imagem, ainda que fisicamente seja diferente.