sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Valéria

Admiro teus caracóis cor de sol
Que teimosamente desafiam a gravidade
Em ti não há pedra dura, nem agua mole
A tua vontade seria a minha felicidade

E se eu acabasse o que comecei a escrever
Emprestavas-me o teu tempo para o ler
E se eu juntasse palavras á minha voz
Prometes-me que ouves até ao fim
Tirava a mascara se me dissesses que sim

Eu juro que me dispo de querer
Mas sem ter a certeza nem saber
Só o silencio me parece entender

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

No dia em que os animais apareceram

Esta lenda teve inicio no princípio dos tempos, é uma lenda tão antiga, que tempo ainda não era contado naquela altura, ainda não tinha sido sequer inventado.
Esta é a história de um deus, que enquanto criava o mundo, decidiu que tinha de o povoar, mas não sabia com o quê, então pensou, pensou, até que teve uma ideia.
“- Já sei o que vou fazer, tenho muitos filhos e a cada um deles transformarei num novo animal, mas para isso terei de os avaliar muito bem, terei de ver os seus comportamentos e analisar as suas personalidades, e só ai, e conforme cada um, criarei um animal a sua imagem.”
E se bem o pensou, melhor o fez, o primeiro foi o seu filho mais velho que era forte, valente e destemido, então deus decidiu que ele seria perfeito para leão, pois tinha de ser o rei da selva e essas qualidades ser-lhe-iam muito úteis.
Tinha outro um filho que era bastante grande e forte, embora fosse muito calmo e pachorrento, pensou que daria um belo elefante, é por isso que hoje vemos os elefantes, como animais muito calmos e despreocupados.
Tinha um filho que era muito inteligente e brincalhão, e grande nadador, então o pai criador decidiu transformá-lo num golfinho. E assim sucessivamente, um a um, o deus pai criador, lá foi criando todos os animais.
E quando tinha criado quase todos os animais, reparou que ainda faltava transformar duas filhas.
Eram as filhas que deus ainda não sabia o que fazer com elas, porque eram ambas muito belas, mas com maneiras de ser bem distintas.
Uma era muito simples e humilde, tentava ser sempre bondosa com toda a gente e tinha sempre um sorriso guardado para nos animar, por outro lado a sua irmã, era uma pessoa maldosa, em que a sua única e grande preocupação, era que todos a achassem mais bonita que a sua irmã, ela invejava a própria irmã.
E este era o dilema final do pai criador, em que animal deveria ele transformar estas duas últimas filhas, até que por fim teve uma ideia, e disse para ele mesmo:
-“Já sei o que fazer.” Pensou ele visivelmente eufórico, “ secretamente, chamarei cada uma das minhas filhas, e perguntar-lhes-ei, em que animais é que acham que eu devo transformar a sua irmã? Mas isto tem uma rasteira, sem que elas saibam, conforme o que me responderem, será nisso que eu as vou transformar, portanto, elas pensam que estão a pedir para a irmã, mas estarão a pedir para elas mesmas.
E assim o fez, chamou primeiro a sua filha bondosa e perguntou-lhe.
-“ Diz-me minha filha em que achas que devo transformar a tua irmã?” perguntou o pai criador á sua bela filha.
- “ Não sei meu pai, essa pergunta é muito difícil, mas sei que terá de ser num animal que seja bonito, sensível, simpático e muito, mas mesmo muito elegante pois só assim lhe faria justiça, tinha também que ser graciosa, tinha de ser cor-de-rosa pois essa é a sua cor preferida e principalmente terá que voar pois a minha irmã voa constantemente com a sua imaginação. E acho que é isso meu pai.” Respondeu a filha.
Então só ficou a faltar uma, era a vez de chamar a ultima filha e também a que mais o preocupava, tanto pela sua personalidade, como pelo seu mau carácter, esta sua filha foi deixada para o fim por isso mesmo, embora triste porque parecia já adivinhar o que aí vinha, e como forma de se consular, pensou para ele.
“-Cada um terá aquilo que merece, as oportunidades foram iguais para todos.” Então chegou a hora e chamar a sua ultima filha.
“- Minha filha, vem cá. Tenho uma pergunta para te fazer, quero que penses bem porque é muito importante, pensa bem naquilo que me vais responder.” Disse o pai criador á sua ultima filha.
” Diz-me minha filha, em que é que tu achas que deva transformar a tua irmã?”
A sua filha ficou perplexa com o que o seu pai lhe perguntou, mas por fim pensou para ela mesmo, “ Vou aproveitar para garantir que serei o mais bela dos animais, vou fazer com que a minha irmã se transforme num animal desprezível, sujo e repugnante.”Pensou ela.
“- Meu pai, já sei a resposta.” Disse a sua filha.
“- Aí sim minha filha, e qual é a resposta então?” perguntou deus, seu pai.
“- Meu pai, quero que ela se transforme num animal que ande sempre com má aparencia e só possa mudar de roupa uma vez por ano. Para que todos nós possamos ver as suas vestes sempre sujas.” Respondeu a sua filha, com um sorriso malicioso na cara.
“- Ó minha filha, ó minha filha, como podes ser tu assim para a tua irmã...” Disse o pai criador, decepcionado com a resposta da sua filha.
Então chamou as suas duas filhas a sua presença por uma ultima vez, dirigiu-se primeiro para a sua filha mais bondosa, e disse-lhe:
“-Minhas filhas esta pergunta que vos fiz, tinha uma rasteira como vereis.”
“-Primeiro tu, sempre foste bondosa, gostei bastante do que me respondeste, mas vindo de ti não esperava outra coisa, sempre generosa e simpática para com a tua irmã, mesmo depois de tudo que ela te fez passar, continuas sem lhe desejar mal, é por isso que para ti tenho guardada uma grande surpresa, tudo aquilo que desejaste para a tua irmã, ser-te-á atribuído a ti, como tal serás um flamingo.” Disse-lhe o pai muito contente. “- Agora vai minha filha e voa, voa para longe, e sê feliz.” Disse-lhe o seu pai criador, bastante orgulhoso e comovido com a bondade da sua filha.
A sua filha enquanto experimentava as asas pela primeira vez, chorava de contentamento, “- Muito obrigado meu pai.” Disse a nova Flamingo de roupas de penas cor-de-rosa.
Depois dirigiu-se para a outra filha, que já estava arrependida com o que tinha pedido para a irmã, por essa altura já se tinha apercebido que aquilo seria mas é para ela.
”... Como te disse antes, isto era uma trapaça, e tudo aquilo que desejaste para a tua irmã, era antes para ti, por isso todo esse mal que lhe desejaste, ser-te-á entregue á ti, serás tu a andar sempre de roupa suja e a só poderes mudar uma vez por ano.”
E foi então que deus transformou a sua ultima filha numa cobra, que anda toda a vida de rastos e, só muda de pele uma vez por ano, e acrescentou ainda uma ultima coisa, por ela viver feliz com o mal dos outros, e estar constantemente a dizer mal, pôs-lhe veneno a sair pela boca.
E foi assim que apareceram as cobras, o animal que todos nós devemos evitar, tão grande é a sua maldade, mas também se criaram bons animais, muitos animais, animais para todos os gostos, alguns chegam mesmo a ser o amigo mais fiel ao homem.

Lusitánia

Vocês sabem o nome da minha terra
É onde as pedras da calçada á noite, choram
Porque sentem falta daquele que as faz brilhar
É onde a musica, vem dos bebés que berram
Porque querem se exibir para o que o há-de amar
É onde cada janela tem sempre olhos que espreitam
Porque vigiam a morte, não a deixam entrar
É a terra do fado, tem na saudade a sua sina
A minha terra é Portugal, a terra da rima (com mar)...

Os momentos finais de um ateu.

O senhor Augusto Seabra era uma pessoa letrada, toda a sua vida foi pautada pela bondade, era de boas famílias e tinha passado muitos anos a estudar na metrópole. Onde todos queriam estar mas de onde ninguem queria vir mas ele fez o impensável… regressou ás origens, pois nessa altura todos aqueles que saíssem para estudar deixavam-se seduzir muito facilmente pelas iguarias e atracções das grandes cidades, onde era fácil a adaptação, e nunca mais regressavam à terra que o viu nascer a não ser apenas de visita. Mas com o senhor Seabra não foi assim, antes pelo contrário, foi o primeiro a regressar, nunca trocaria a paz e as paisagens imaculadas da sua terra por nada deste mundo.

Mas ninguém que saísse voltava igual ao que era, e isso, numa terra do interior, onde as pessoas eram por o ser, não punham nunca em causa os seus ensinamentos, porque para eles tudo tinha uma razão de ser e, se lhes ensinaram assim, é porque assim deveria ser.
Já para o senhor Seabra, letrado e com muita vontade de aprender ainda mais, as coisas eram bem diferentes e se algo nele mudou, foi isso mesmo, o não aceitar só porque lhe dizem para o fazer, mas tinha sempre de compreender o porquê, e em pouco tempo começou a mostrar a sua nova faceta.
Tinha-se tornado um ateu. Ele, que tinha lido varias vezes a Bíblia, leu também o Corão e o Tora por curiosidade e concluiu que as ideias de todos os profetas da história há muito se tinham perdido, o Homem tinha deturpado e destorcido de tal maneira a sua mensagem que se Cristo regressasse à terra não reconheceria a religião que dá o seu nome. Esquecemos os ideais e valores de bondade, e trocamo-los por polémicas, como o aborto, o preservativo, os casamentos gays, estavam o tempo todo a falar da vida dos outros e pouco a pensar na sua.
E foi aí, que o senhor Seabra decidiu que o que melhor lhe acentava era ser ateu, pois para ele nada do que a religião apregoava fazia sentido e, por isso, tomou a decisão de deixar de frequentar a igreja. Para ele isto não tinha nada de extraordinário, mas o mesmo não se aplicava aos seus conterrâneos e familiares, pois para eles era um pouco difícil de aceitar a sua decisão. No entanto, com o passar do tempo as pessoas começaram a aceitar a sua opção, que por sua vez, nunca pôs em causa o facto do senhor Seabra ser boa pessoa.
Os anos foram passando e, já no fim da sua vida, essas dúvidas religiosas começaram a atormentar os seus pensamentos, pois aceitar a religião não lhe faria mal algum.
Já no seu leito de morte, o senhor Seabra pediu aos familiares para que lhe chamassem um padre, um imã, e um rabino. A família encarou esta situação como se ele, finalmente, fosse fazer as pazes com a religião, antes de partir, e como uma pessoa culta queria saber qual das religiões seria a mais apropriada às suas convicções.
Mas lá na terra, todo mundo ficou intrigado e comentavam:
- Pois, pois, na hora da verdade, até os descrentes se agarram ao que podem. Coitado deve estar com medo de partir para o desconhecido!
- E mesmo quem pensa que tudo sabe, na hora da verdade, vê que não sabe é nada!!!
Uns diziam que estava arrependido de ser ateu, ou que se calhar, só se ia confessar e pedir a extrema unção, como é normal para os católicos, outros diziam que ele não queria deixar nada ao acaso e ia pedir perdão a todas às (três) religiões, pois “quem é que nos garante o que estará do outro lado”, e pelo sim e pelo não, chamou também um rabino e um imã.
A família lá lhe fez a vontade e, um a um, os líderes das respectivas religiões entravam no seu quarto, onde o senhor Seabra estava deitado. Enquanto isso a família aguardava muito curiosa do lado de fora. Cada um deles esteve lá dentro durante uma meia hora e saía directamente para a rua sem dizer uma única palavra que fosse à família, como costumam dizer, entravam mudos e saiam calados, apenas se podia reparar no ar consternado que cada um carregava à saída.
Isso só serviu para aumentar a curiosidade da família.
Entrou o rabino e saiu apressadamente mudo. Depois entrou a imã e a cena repetiu-se. Por fim, entrou o padre, mas também esse fez o mesmo. Todos eles saíram sem dizer uma palavra que fosse.
Então, chamou os familiares que apressadamente entraram, pois já não aguentavam a ansiedade, tamanha era a sua curiosidade. Aí, o senhor Seabra começou a falar.
- Minha querida família, a minha hora está a chegar e como vocês sabem sempre fui ateu.
E subitamente foi interrompido por um familiar.
- Mas agora já não é? e então que religião escolheu?
- Calma! Calma! Deixem-me falar. Bom, estava a dizer, sempre fui ateu e mandei chamar estes líderes que vós vistes. Embora nunca tenha acreditado em nada, não há forma de saber o que estará do outro lado e, quanto mais nos aproximamos do fim, mais pensamos se fizemos a escolha acertada, como é natural o ser humano ter estas dúvidas. Falei com os três e expus-lhes as minhas incertezas, ouvi atentamente as explicações que me deram e cheguei a uma conclusão.
Quero dizer-vos que não podia estar mais certo da minha escolha, só precisei de uns momentos com eles para ver que realmente não tenho razão para ter medo. Todos estavam mais preocupados com a minha conversão à sua religião, com o intuito de lhes deixar alguma coisa em herança, e nenhum se preocupou com a minha alma, em nada diferente de vós meus queridos. Esta gente há muito que esqueceu os valores e os princípios das respectivas religiões. Por isso serei ateu até ao fim.
Sabem Jesus perguntou aos apóstolos.
“Tenho 100 ovelhas e uma delas tresmalhou-se, o que devo fazer? Contentar-me com as 99 e esquecer a que se perdeu, ou deixar as 99 e procurar a que se tresmalhou?
Todos os apóstolos lhe disseram para seguir com as 99, porque essas eram seguras e mais valia 1 pomba na mão que 2 a voar”, mas Jesus disse o contrário, “pois as 99 estão bem, a que se perdeu é que precisa de ajuda.”
Estes são os valores que deviam ser constantemente relembrados e que há muito se perderam.
O problema da religião é que foi criada para e pelos homens, que como sabemos, destrói tudo aquilo em que toca.
E se estiver errado na minha escolha, estou certo que Ele perdoará este velho ignorante, que honestamente se enganou, porque se numa coisa estamos todos de acordo, é que o mais importante é ser uma pessoa justa e bondosa, e isso foi o que sempre tentei ser.
Assim sendo, posso ir descansado.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Acabou a mal

Que causticas lágrimas te escorram pela face
Te sulquem a pele, criem rêgos no rosto
Só assim saberei que estive a teu gosto
Agora invisível, quero á mesma que realce
Que o espelho não te deixe esquecer de mim
Mas se ás lágrimas juntares o tempo
Transformaste-me a alma em cimento
Porque também eu já me senti assim